10 novembro 2006

Memorial para o grupo





"Quem não busca a crus de Cristo não busca a glória de Cristo." - São João da Cruz

Memorial para o Grupo



Foi através de um 'Ratch' que com um bagageiro acima que realizei o tournê. Tem mesmo a cara de 'frila'. Eh, eh, eh.




A lgum tempo atrás alguns tiveram a coragem de escancarar seus estúdios para todo mundo ver. Agora crio coragem e vou escancarar é minha vida profissional. Verdade.


Não fico surpreso se alguém pensasse. "- Putz, mais um texto longo? Deveria varrer deste espaço tal tipo! Fora do convencional em se tratando do nosso dia a dia. Tem gente que ainda ñ tem juízo – Quem ainda leria biografia de um maluco? Quem deixa se prender por tantas idéias? E se são idéias falsas ou vazias. Que perca de tempo!"

– Tanto pra resolver, e tudo vai tão rápido, urgências, dívidas crescentes e alguém se atreve a bla-blás tão longos.

– Sem problemas. Leiam se quiserem. Não consigo fazer melhor. Se não for lido por qualquer fator, não fará diferença pra ninguém, a vida continuará de qualquer jeito na mesma. NÃO LEIA.


Nada acontecerá de novidade. Talvez mais velho e esquecido. Foi apenas algo que me faz bem escrevê-lo e enviá-lo. Fazer amizade? Depende do tipo - pode ser ou não ser. Obrigação? Não. Poderia não fazê-lo; Vontade de estar por um minuto refletindo em voz alta. Vê-se que está claro. Quanto ao português correto, seguindo o conselho do Montalvo, procurei prevenir-me de que tudo esteja bem. Perdoe-me se algo escapou. Chega de exposição de motivos. Pois bem. Eis o assunto:


Ilustração tem sido a minha grande vocação. IheeeÉh, bem aqui neste país de ralação. Cuja herança cultural tem sido a mentalidade agro-pastoril. Casa, comida, roupa lavada e sufoco. Nada mais. Uma pobreza para a intelectualidade, arte e cultura. Infelizmente, tudo depende da m... de recursos financeiros. Tudo gira em torno disso.








Pois bem. Um longo período nublado apossou da minha vida, perdendo longos anos de militância envolvido até mesmo com atividades que não tem nada a ver com a arte. Como trabalhar numa financeira, serviço público, levar uma quitanda em frente. Depois de tanto servir cafezinho, broas e pão-de-queijo, vendi o comércio. Frustrado da vida e curtindo deprê fui torrando a grana aos pouquinhos. Até que algo mexeu com o amor próprio que todo macho deve ter. Faltou dinheiro para a gasolina do velho fusquinha. Caracolas! E agora, José? Não dá pra pegar grana emprestada com o velho. Como desenhar é a única coisa que sabia fazer na minha vida, passei a mão em duas cadeiras, uma prancha de duratex, alguns materiais miúdos e fui virar “grafiteiro” de feira popular. Que humilhação!? – (Detalhe, essa feirinha foi bem longe do meu habitat social. Não tenho tanta cara pra quebrar assim).

Beleeeeê! Que dia de sorte! Já consegui a grana pra voltar pra casa com a tralha e o dinheiro do rancho. Aos poucos fui me estruturando e não precisei mais trabalhar na rua. Desvalorizar meus trabalhos. Uma forma de moralizar foi encontrando ou criando espaços culturais alternativos na cidade, que não seja somente em shopping, como no Plano Piloto aqui em Brasília. Outra coisa que não saía da minha cabeça: Proporcionar uma variação de técnicas ampla nestas mostras que não fossem somente óleo sobre tela, retratos, e outros bagulhos para tapeação. E cotizei melhor o preço dos trabalhos, baseado no velho livro de Stephen Baker. Advertising Layout and Art Direction. Depois migrei com mostras itinerantes para outros centros. Como Goiânia, Uberlândia, BH, Ribeirão Preto. Ao chegar na cidade, tive que passar alguns apuros para economizar a grana. Dormia dentro do carro mesmo. Isso durava até que encontrasse o espaço ideal e montar o acervo. Em seguida, já conhecendo um pouco a cidade, procurava uma pensão barata. Antes costumava tomar banho em banheiros de postos de gasolina.






Muitos fatos sinistros, curiosos e legais aconteceram. Vou citar um sinistro no que se refere ao aceio pessoal já que falo em postos de gasolina. Uma vez passei um apuro ao tomar banho. Cheguei num destes postos de estrada e sem opção nenhuma, tive que enfrentar num desses banheiros uma porcaria. Um infeliz fez a obra no cantinho do próprio Box. Enojado com a latrina, a minha ducha passou a ser um litro de álcool e papel-toalha dentro do meu próprio carro por muito tempo. Acredito que se fumasse naquela época, não estaria relatando essa história aqui.
Finalmente, levei oito anos para me informatizar. Ia me mantendo ministrando algumas oficinas de arte em minha cidade, Taguatinga. E isso deu uma freada no sentido de levar tudo no muque. Há uns três anos instalei internet rápida (adsl) em meu escritório. Vou fuçando daqui e dali, dia após dia. E nalgum desses dias, aparentemente igual a todos outros, encontro numa enorme lista de grupos do yahoo, o quê? Um nome fixou na minha frente: Ilustrasite. Mas Ilustrasite? Isso deve ser discussão só de quem faz sites, homepages.


- Não me atrai. Já me enveredei por este caminho de fazer sites antes e não obtive tanto fascínio! (Foi ilusão. Na ânsia de montar uma pequena agencia doméstica – Tinha que lidar com programação html, aptions scripts da vida e caras aloprados. Argh! Achei-me num ramo que muitos, e infinitos fatores estouravam prazos com enorme facilidade sem falar que castravam criatividade e a estética do layout de forma indiferente.)



Isso agora não vem ao caso. Quanto à estranheza do novo nomezinho Ilustrasite, vi que não custaria nada entrar e lesse a proposta e os babados dos participantes do grupo. E aí? Cadê a turma dos sites? Falava-se em desenhos, pinturas e ilustração. Êpa, vejam isso. Olha o que os caras estão falando. Que papo maneiro... mexeu comigo. É o que estou procurando. É pra isso que nasci, desenho é só desenho. Não tem nada de sites. Esse pessoal daqui fala sobre isso com uma seriedade tal e não como um grupo de moleques adolescentes fazendo dc-comics e nem mangá em cursinhos gratuitos de prefeituras e escolas.

Embora o nome fosse estranho para uma comunidade de ilustradores, decidi ver no que vai dar. E até hoje é o grupo que mais freqüento. Em cima do muro ou mandando alguma coisinha. Tentei afastar por uns tempos para focar em outros grupos de interesse. Mas que nada, fiquei angustiado, vi apegado, virou cachaça. Este Ilustrasite inflamou a vontade de retomar um dia minha função de ilustrador. Não posso largar ele fácil não. Esse tal de Montalvo... o cara tem coragem. Ouçam. É uma voz que ressoa no caos e abandono do mundo da ilustração! Aquela panelinha em volta. Ouso dizer que são os doze discípulos... Sempre as mesmas pessoas. Sempre trazendo novidades...



É necessário mesmo um memorial? Vejo que não foi ainda proposto um feedback do Ilustrasite dos melhores momentos de 2004. No meu caso, poderia citar dezenas sem desmerecer nenhum. Guloseimas como vários livros do Loomis e outros baixados. Muitos depoimentos são relevantes, sobretudo colocações do Montalvo, trabalhos do Benício, Renato Alarcão. Sobre stocks, contratos, artimanhas de orçamento e entregas de trabalhos, alguns debates “apaixonados” sobre assuntos pertinentes ao grupo. Neste caso, discussões de arrepiar, que provavelmente fez neguinho discordante migrar definitivamente pra outros grupos. Por outro lado, um bom trabalho, seguidos por alguns depoimentos maravilhosos dentre uma centena de participantes que faço questão de frisar como Morandini, Galvao, Mauricio Rett, Laurides, Mônica, Marcus Correa, Daniel Bueno, Rogerio Sound, Rogerio Villela, Cibele Santos, Chico Azevedo, os incanssáveis William Medeiros e o Rico, Eldes, Tuco, Ceu, Adriana Meirelles, Silvio Gregorio, Michelle Resende, Marcos Piolla, Benigno, Gerson do Amaral, Lanika, Giovanni Zuba, Will, Marco A Cortez, Orlandeli, Milano, Danilo Araújo e muito muuuito mais. (Quem tiver dúvidas veja http://br.groups.yahoo.com/group/ilustrasite/members?group=sub). Percebe-se que insurgem aqui para uma melhoria no setor de ilustração quanto à qualidade e moralização do profissional frente ao mercado. Estes depoimentos, dicas ou alguns trabalhos tem mantido o bom gabarito e coesão do grupo. Atraindo novos visitantes e participantes, como também influenciando a todos a buscar sempre do melhor. Muitas coisas preciosas os mantenho bem guardas aqui em meu diretório para revisão e consultas futuras. Afinal de contas, devem servir me de incentivo e obter apreço quanto ao que vou fazendo no dia a dia com relação aos meus próprios projetos e atividades de arte-educação. Como também, porque não, influenciar outros indivíduos aficionados um tanto ingênuos que vou encontrando.



Todavia, o que me marcou foi o que a Mônica Fuchshuber colocou aqui outro dia. Procurei a mensagem contendo suas palavras exatas mas, infelizmente estão perdidas ou talvez, desastrosamente as deletei.




Trata-se de que cada um deve cuidar de seu próprio nariz. Ops, digo jardim. Os pássaros, abelhas e borboletas que atraírem poderão se aproximar sem receio. Melhor para o jardineiro, do que se preocupar com o jardim alheio. Outra coisa que tem me marcado é exatamente os dois doentes no leito do hospital. Que sacadas! !Que sacadas! Obrigado a todos, ao Montalvo, grande regente, e seu auxiliar Alarcão com suas oficinas, pela iniciativa, trabalho e paciência de ter criado e mantido o grupo. Parabéns! As pessoas ilustres presentes, os estudiosos, artistas de nome ou mesmo que se mantém no anonimato favorecendo com preciosos depoimentos.

Apesar de não parecer sou bem religioso. Sem pieguices e sem nenhuma outra pretensão. Tenho consciência da existência e atuação silenciosa e imperceptível de um Deus Criador, que muitas vezes, pra não dizer quase todas, se encontra no fundo do poço. Peço com humildade que abençoe a cada um daqui presente. Sei que o mundo, aos trancos e barrancos, é constituído não somente de castas inferiores, mas por reis, sacerdotes, profetas e artistas. Na minha ótica este artista é o membro mais delicado. Sensível por natureza. É o radar que capta as vibrações negativas ou positivas dos tempos e expressam a sua mensagem em forma de arte propondo uma nova estética. A menina dos olhos do grande Autor da vida. Aquele que presta serviço a todas classes de uma forma desinteressada mesmo se está no obscurantismo, na decadência material, moral e espiritual. Aí poderemos encontrar o ser solitário do artista se exprimindo o que se passa ou mesmo o que percebe. No ocaso da vida, na opulência ou na precariedade.

Para finalizar estou feliz com a opção. Tenho melhor consciência da minha escolha e dos problemas a serem enfrentados. Os tempos de hoje é bem diferente dos tempos do pós-guerra. A globalização e a automação desfiguraram nossas livrarias, banquinhas, folhetins, cartazes até mesmo o cinema e a televisão, tão amados em outrora. Era legal esperar pelo singular. O pós-moderno nos leva odiar e levar ao desdém hoje em dia estes instrumentos que eram amados. Costumes antigos, outrora eram modernos, chiques e glamorosos porque a vida andava, não corria. Hoje a saturação chegou ao ápice. A impressão é de que só o tsumany para acabar com tudo. A mídia digital abre novos caminhos, porém nebulosos, tortuosos e cheio de obstáculos de todo tipo. Mas com maior amplitude para a ilustração quando o computador, como ferramenta, supera a fotografia quando imagem estática e a animação, por sua vez, imagem em movimento. Em contrapartida, a clientela seleta de artes é as classes A, B e empresas consolidadas, com chances e oportunidades cada vez mais afuniladas. Exemplo disso não falta.






Que bom seria se muitos “perdidos” como eu por aí se encontrassem um dia aqui... Um lugar que nem o rio se detém e em seguida acolá pode vir uma pororoca querer jogar todos fora do caiaque seguindo um curso desgastando as bússolas e os mapas.

E aí freguês, vai aceitar um cafezinho? Olha o pão-de-queijo quentinho na hora! Vai uma broinha?


Abraços, De Barros







Pe José de Anchieta. - Rogai por nós!

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